Andou-se para aí a discutir que a RTP não devia renovar o exclusivo da Liga Portuguesa de Futebol, porque é mau negócio. A lógica do raciocínio escapa-me: as transmissões de jogos são sempre os programas mais vistos em tv e os que atraem mais publicidade, logo, mais dinheiro. Se as receitas cobrem os custos, qual é o problema? É a RTP dar menos prejuízo? E se são os mais vistos é porque são os que têm mais espectadores (uma lapaliçada para que se perceba bem o que se discute), logo é porque é popular e em princípio faz sentido numa tv pública que se quer também popular.
Agora vem cá o Papa, e o raciocínio pode-se aplicar da mesma forma. Deve a televisão pública gastar dinheiro a mostrar o Papa? Deve, porque é popular e corresponde aos desejos dos espectadores e cidadãos – que apesar das elites, gostam do Papa e de futebol. Eu, que gosto muito mais de um bom jogo de futebol do que de uma missa papal, percebo perfeitamente que o Estado gaste o meu dinheiro em ambas as transmissões. Para dizer a verdade, até gosto mais de um mau jogo de futebol do que de uma boa missa papal, mas a lógica do imperativo de transmissão na tv pública é o mesmo - e é admissível o uso do argumento de serviço público em ambos. Claro que o argumento da popularidade não chega para sustentar uma ideia de serviço público, mas estamos aqui a falar de entretenimento directo, inócuo e que dá lucro. Repito que me escapa o raciocínio que condena um bom negócio comercial que dá dinheiro e espectadores a uma estação que está no mercado em busca de ambos.
Para o bem de todos, a TVI acabou por ficar com a proposta de emissão dos jogos e resumos da Liga Portuguesa. Isso significa que fez uma proposta mais alta, e é lógico pensar duas coisas: a) a TVI achou que o futebol vale o que pagou e que o consegue recuperar em publicidade; b) a TVI sabe que o futebol tem um valor em grelha que se estende para outros programas, e prefere ter essa vantagem do que deixá-la nas mãos da concorrência. Ou seja, aplicou as leis do mercado e ganhou, pagando mais que a RTP e esperando ainda assim rentabilizar o seu investimento.
Parece-me óbvio que no fundo o que se quer discutir é a lógica de ter um canal público a emitir em sinal aberto concorrendo por publicidade com os privados. Essa é uma discussão útil, lógica e se calhar urgente. Mas não tem nada a ver com os direitos dos jogos de futebol – e mais vale não misturar as coisas. incompetente seria a direcção de programas se não procurasse disputar essas audiências. Assim, esta direcção da RTP fez o seu trabalho. Só isso.
Como de costume os comentários são bem vindos e as discussões são bem recebidas.