O Mipcom é o maior mercado mundial de televisão e tem por hábito antecipar as novidades da televisão. Funciona para o pequeno ecrã como as passerelles de Milão para a moda, lançando tendências e consagrando nomes no mercado. Em cima do fecho da edição deste ano, fica um pequeno resumo para que se saiba a quantas anda o mercado internacional de tv e aquilo que vai estar no ar nos próximos tempos. Para quem não faz ideia como a coisa funciona, uma breve explicação: produtoras do mundo inteiro vêem para Cannes com as suas melhores ideias de programas (formatos, filmes, documentários, etc.) e montam stands onde os exibem; os directores de canais do mundo todo cruzam os corredores e compram o que podem, o que lhes apetece e o que está livre. É portanto um supermercado de programas de tv, que abastece os ecrãs com programas bons, maus, muito maus e excelentes. Este ano, a coisa está a ser um bocado esquizofrénica. Enquanto nas salas de conferências se discute seriamente o fim do modelo da tv tal como o conhecemos e as suas implicações para os produtores e canais, no salão principal compra-se alegremente por somas alucinantes o melhor-próximo-formato-para-arrasar-a-concorrência-mesmo-que-eu-saiba-que-a-publicidade-não-me-paga-isto. Quatro quintos dos 12 mil visitantes entretém-se a comprar e vender, não vai às conferências e passa alegremente ao lado do que se diz.
DEBATES
As conferências e Debates foram de alto nível e reuniram o melhor de várias indústrias – publicidade, produção, distribuição, tv e online. Em cima da crise, cá vai um resumo do que se disse em três dias assustadores:
- A crise retirou publicidade do mercado esta não volta à TV, porque os índices estão a baixar muito
- A migração de espectadores dos canais generalistas para os especializados vai continuar
- A Alta Definição (HD) já é o padrão, quem não usa vai ficar de fora
- A migração para o digital é imprescindível para a sobrevivência da indústria
- O poder passou em definitivo para as mãos do espectador e os horários já não são assim tão importantes
- O modelo económico actual está esgotado e a procura por outro já arrancou
- A indústria dos jogos online pode ser um bom exemplo para o mercado de tv
- Vamos ter menos ficção e mais reality-shows nos canais generalistas
- Os únicos mercados em que tudo ainda cresce (publicidade, espectadores, horas a ver tv) são a Índia e a China
- Os formatos de reality-show estão a amadurecer e surgem já experiências que misturam ficção com documentário com reality-show
- Vários países consideram estratégico possuir um sector de media e competem entre si, mas a maioria anda a desinvestir
PROGRAMAS
Quem passa meio dia enfiado numa sala de conferências a participar em discussões sobre os efeitos da crise e de repente leva com o ambiente nos stands das produtoras não pode deixar de ter aquela sensação de quem está a assistir a um Titanic em directo e ao vivo… Passado esse choque inicial e assumindo o prazer voyeuristico que a tv provoca, vale a pena perder horas a ver novos formatos. E há produtos excelentes a chegar ao mercado. Vários formatos excelentes: da BBC, da Freemantle, da Endemol e da Shine. Curiosidades extraordinárias do Japão e alguma ficção interessante da China e dezenas de documentários muito apetecíveis – vários dedicados ao ambiente, tema da moda até ao final do ano por causa da conferência de Copenhaga. Mas os destaques vão para os formatos mais originais: o Reflex, game-show da MTV que estreia na Primavera; e The Coffin, O Caixão, formato holandês que é absurdamente simples e provocador. Os nomes famosos também vão dar que falar: o novo show de Jerry Seinfeld, Marriage Ref, é produzido pela Endemol e vai-se espalhar rapidamente pelo mundo. Is or Isn’t It Entertainment, uma surpreendente produção de Lisa Kudrow (actriz mais conhecida por Friends e The Comeback), é um excelente produto que representa bem a tendência de fusão entre reality-show, ficção e ducodrama que aí vem.
Diogo Queiroz de Andrade
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